Prezados cotistas,
Na carta de fevereiro havíamos mencionado que Jair Bolsonaro não teria sua “lua de mel” com a mídia. O mês de março deixou isso bem claro. Podemos dizer que o governo Jair Bolsonaro teve sua primeira crise política, crise essa, em nossa opinião, carente de fundamentos que justificassem o desgaste ocorrido entre presidente da Câmara dos Deputados e o Presidente da República.
No dia anterior às prisões preventivas do ex-presidente Michel Temer e de seu ministro das Minas e Energia, Moreira Franco, no âmbito da operação Lava-Jato, num inquérito sobre corrupção na Eletronuclear, Rodrigo Maia atacou o Ministro da Justiça Sérgio Moro e seu projeto Lei anticrime que tramitará na câmara dos deputados. Moro respondeu de forma educada e republicana, mas Carlos Bolsonaro, filho do presidente da Republica foi mais contundente na defesa de Moro. Como o presidente não repreendeu o filho, estava criado o “clima de guerra” entre os poderes. Houve rápida deterioração no ambiente político e uma considerável piora nas expectativas dos agentes quanto a tramitação das reformas ao longo deste ano. O dólar atingiu a marca de 4 Reais e o IBOVESPA chegou a acumular uma queda de 8% nos dias que se seguiram ao embate político.
Como num passe de mágica, Rodrigo Maia desengavetou uma PEC que estava há 3 anos de lado e que obriga o governo a executar todos os investimentos previstos em orçamento, ajudando na descentralização de gastos. A velocidade na aprovação desta PEC surpreendeu. Maia reuniu 453 votos para a aprovação em tempo recorde.
Após este lamentável fuzuê, ao menos pudemos ter alguns bons resultados: o primeiro foi que os presidentes dos poderes foram obrigados a conversar e, usando um jargão popular futebolístico e bem aceito, colocar a bola de volta ao chão. O segundo foi que nosso Congresso, apesar das críticas frequentes, quando provocado a trabalhar, o faz com a velocidade que a urgência as vezes requer. É preciso que o governo use essas características a seu favor.
O Ministro Paulo Guedes foi chamado as casas legislativas para prestar esclarecimentos quanto a sua proposta para a Reforma da Previdência. Durante suas muitas horas de sabatina, sofreu muito mais provocações do que questionamentos propriamente ditos. Mais um sinal de que o assunto aparentemente já está bastante esclarecido pelos congressistas. Vale lembrar que há dois anos boa parte desta discussão havia sido feita. O desempenho do Ministro foi bom, mostrando comprometimento tanto quanto a importância de se atingir um equilíbrio fiscal quanto pelo respeito que demonstrou à democracia.
A luz deste aumento de aversão ao risco, empresas de pequena e média capitalização acabaram, em alguns casos, sofrendo por conta de menor liquidez. Nomes como os do shopping Sonae Sierra e da Wilson Sons explicaram 1,3% pontos da queda e ajudaram a explicar nosso desempenho de 2,1% abaixo do IBOVESPA. A abertura nas taxas de juros mais longas também contribuiu para a queda nas ações de empresas com maior geração de caixa, a exceção das ações da Sabesp, que subiram quase 7% impulsionadas pelos comentários do governador de São Paulo quanto ao possível processo de privatização.
O Dólar se valorizou 4,3% no mês, mesmo com a queda na remuneração dos títulos de 10 anos do tesouro norte-americano. O COPOM decidiu manter a taxa Selic estável, em 6,5%, apesar do cenário benigno de inflação e de sinais de fraqueza na atividade provavelmente aguardando sinais positivos do Congresso. A geração de empregos referente ao mês de janeiro surpreendeu positivamente, com a criação de 173 mil postos de trabalho, acima das expectativas para o mês que eram de 90 mil. Mas esses desentendimentos entre os poderes acabaram tendo como efeito afetar a confiança dos empresários, medida pela CNI, que caiu de 64,5 para 61,9. Percebemos que há muitas empresas prontas para investir no caso de perceberem aprovação das reformas, mas também com o “dedo no gatilho” para eventuais ajustes de funcionários no caso em que a Reforma seja ou muito desidratada, ou fique para o próximo ano.
Teremos pela frente meses cruciais, onde por um lado o novo governo será testado e estressado por diversos segmentos da sociedade e por outro deverá evoluir com medidas positivas na gestão pública e na condução das Reformas. Para aqueles que, como nós, continuam vendo as potencialidades do Brasil após esse importante ajuste, esses ruídos de curto prazo (ou de alta frequência) servem para poluir a percepção do que se avizinha e, por outro lado, nos oferece um maior retorno esperado para aquele mesmo cenário que já tínhamos.
Atenciosamente,
André Gordon
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