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Foto do escritorAndré Gordon

Carta do Gestor - Maio de 2015

Prezado investidor,


O mês de maio serviu para nos lembrar de que somos governados por políticos muito pouco sensíveis às agruras que o país sofre. Digo isso porque, apesar do ambiente macroeconômico e político institucional estarem bastante deteriorados, houve em abril certa calmaria nos mercados e novas fichas de credibilidade foram depositadas sobre a equipe econômica sob o ministro Joaquim Levy. Infelizmente uma única andorinha não faz o verão. O ministro luta quase que solitariamente, dentro de uma equipe de ministros, onde a sua chefa parece ter vergonha de apoiá-lo publicamente. E o mercado voltou novamente a colocar nos preços o risco da saída prematura do ministro, único fiador das atuais medidas de cunho ortodoxo que vêm sendo anunciadas.


Os indicadores econômicos divulgados ao longo do mês corroboram a percepção generalizada de que a economia segue em desaceleração e que ainda viveremos seu pior momento ao longo deste ano. A produção e a venda de automóveis seguem abaixo das estimativas, num nível 20% inferior ao nível de 2014 que por sua vez foi 15% inferior ao ano de 2013. As montadoras anunciaram novamente férias coletivas e lay-offs. Isso afeta o setor siderúrgico e toda a cadeia de suprimentos desta indústria. O desemprego atingiu em março 7,9%. A inflação ainda segue resiliente de forma que o Banco Central elevou novamente a taxa Selic para 13,75%, mostrando que está realmente preocupado em ancorar as expectativas inflacionárias de 2016 no centro da meta, de 4,5%.


E novas medidas de ajuste fiscal foram anunciadas ao longo do mês. Foi elevada a CSLL sobre bancos e seguradoras de 15% para 20%. Este setor que já pagava 40% de impostos sobre o resultado contra 34% dos demais, passará a pagar 45%. É a mentalidade de tributar os “banqueiros”. Não é preciso ser muito inteligente para saber que os bancos vão repassar este aumento de custos para o spread bancário e para as tarifas de forma que a sociedade é quem arcará com este custo no

final das contas. Essa medida se soma ao suposto aumento de custos para os trabalhadores. Digo aqui suposto, pois a maior parte destes custos elevados apenas corrige distorções e fraudes que se proliferaram durante a era Lula-Dilma. Para esclarecer o tom cético, bastaria dizer que apesar do desemprego ter atingido seu menor nível, os gastos com seguro desemprego bateram recorde de alta. Por fim, o tão esperado corte de despesas foi anunciado. Foram R$69,9 bi, no piso das expectativas e aparentemente abaixo da proposta do Ministro da Fazenda.


Nosso portfólio caiu 1,7% no mês ante uma queda de 6,2% do índice Ibovespa. Saímos completamente do setor bancário antes do aumento da CSLL por entendermos que o valor das ações do Banco Itaú refletia corretamente o seu valor. A elevação dos impostos e a piora nos níveis de inadimplência somada com a desaceleração do crédito devem nos oferecer nova oportunidade de compra no futuro. As ações da Sulamérica, entretanto também sofreram com a elevação da CSLL e caíram 7,5% no mês. Dentre as principais quedas em nosso portfólio destacamos as ações de siderurgia e de mineração. As ações da Usiminas caíram 15% e as ações ordinárias da Gerdau 6,8%. Já a Vale caiu 7,6%. Havíamos reduzidos pela metade a exposição em Usiminas no mês anterior, assim como as ações da Vale. Também escapamos da queda de 5,5% nas ações da Petrobrás, zeradas no início de maio quando subiam mais 10% no mês.


Como destaque positivo no mês, as ações da Locamérica subiram 4%, em linha com a evolução de seu resultado operacional. O mercado secundário de automóveis segue forte ao mesmo tempo em que a empresa aprimora sua gestão operacional. Acreditamos que a empresa seguirá com resultados ascendentes ao longo do ano e o elevado desconto de preço nas ações não se justifica.


Os dias difíceis e com alta volatilidade devem continuar, porém entendemos que a dinâmica inflacionária tende a se arrefecer. O COPOM deverá promover a última elevação na taxa Selic, coroando o Brasil como o país com os juros reais mais elevados do mundo. A combinação de juros altos com inflação cadente costuma atrair capitais especulativos, ao mesmo tempo em que a Balança de Transações Correntes começa a trazer déficits decrescentes.


O câmbio deixará então de alimentar a inflação e suas expectativas, o que pode devolver certa calmaria para o segundo semestre do ano. Parado o governo não corre o risco de errar. Presidente Dilma, deixe o Ministro em paz!!!


Atenciosamente,

André Gordon

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