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Carta do Gestor - Junho de 2016

Prezado investidor,


Por obra de tecnocratas pouco sensíveis à piora das condições econômicas e por conseguinte das condições sociais dos brasileiros, seguimos em nossa longa e penosa espera no purgatório. De um lado reside a esperança, sob a presidência de Michel Temer e do outro o caos e a desesperança, sob a ameaça da volta da presidente Dilma.


E neste ambiente hostil, quaisquer faíscas podem acarretar explosões de elevada magnitude. Trata-se de um ambiente que afugenta capitais de mais longo prazo e ainda impede que os empresários desengavetem projetos de expansão.


A maioria dos agentes segue bastante conservadora, principalmente à luz de que a defesa da presidente afastada insiste em construir uma narrativa de que Dilma fora vítima de um golpe, denegrindo a imagem do país pelo mundo e impedindo que haja um período de pacificação política no país. Felizmente o grupo que segue apoiando a presidente segue restrito ao PT e mais dois ou três partidos de orientação marxista, com não mais de um quarto de representação no senado e mesmo junto à população do país.


E neste ambiente conturbado, onde os casos de corrupção desfloram a cada dia, o presidente interino tem conseguido administrar muito bem as expectativas da população ao mesmo tempo em que garante um apoio político que há muito não se via.


E acreditamos que esse período probatório tem data para acabar. Será após os jogos olímpicos, na penúltima semana do mês de Agosto, graças às táticas protelatórias adotadas pela barulhenta e histriônica base de apoio à Dilma no Senado Federal. Apesar destes esforços dos aliados de Dilma, tudo indica que é muito improvável que os senadores mudem seus votos.


Os crimes de responsabilidade são muito bem caracterizados e são apenas uma parte pequena dos crimes cometidos pela presidente afastada. A ficha corrida é longa e qualquer tentativa de se apegar ao poder significará apenas mais sofrimento para os brasileiros.


E neste mês onde o Real se apreciou em 11%, o Ibovespa teve uma valorização de 6,3%. Nosso fundo acompanhou esta valorização e subiu 6,5%. De certa forma podemos dizer que houve a combinação de fatores domésticos com fatores externos.


No âmbito doméstico, os indicadores de confiança da indústria e do comércio tiveram os melhores resultados em um ano. Tudo indica que o fundo do poço foi atingido. A retomada da atividade, entretanto, está sujeita aos pontos acima apontados. É importante mencionar que mesmo diante desta forte apreciação do Real, o presidente do BC reafirmou que o câmbio é flutuante, ou seja, não há compromisso da instituição com determinado patamar para a moeda, porém será aproveitada a oportunidade para recomprar os derivativos cambiais que foram muito utilizados pela gestão anterior com intuito eleitoral. Há um estoque de pouco mais de USD 60 bi nestes swaps.


Acreditamos que essa força contrária deverá ajudar a suavizar a apreciação da moeda, reforçada pelo excesso de divisas esperado para este ano. Com a retomada da atividade, a tendência é que o déficit em transações correntes se amplie de forma que a moeda deixe de se apreciar.


No âmbito externo, o mercado foi surpreendido pelo BREXIT. A decisão tomada pelos britânicos de deixar a União Europeia contribuiu para a forte desvalorização da Libra Esterlina, assim como das diversas bolsas pelo mundo. No nosso entendimento, a saída do Reino Unido (RU) da União Européia (EU) não trará nenhuma implicação negativa para a economia mundial, salvo a própria EU resolva reerguer barreiras tarifárias contra o RU, o que acreditamos não fazer nenhum sentido. Pelo contrário, acreditamos que o RU terá muito mais agilidade para fazer novos acordos bilaterais com outras regiões, enquanto a EU terá que se disciplinar para que não afunde novamente numa grave crise. O RU também se livrará do excesso de regulamentações que a EU promove a cada dia e retomará autonomia política para tratar de assuntos domésticos, não necessariamente tendo que combinar com os países membros da EU cotas, prazos e outros detalhes.


Podemos dizer que o BREXIT, na prática, gerou incerteza quanto ao comportamento das demais nações da EU. Será que os italianos votarão pela saída? E os holandeses? Caso algum país da EU e que adote simultaneamente o Euro opte pela saída, daí sim teremos um aumento substancial do risco e provavelmente com impactos materiais para os países da região e com destaque para os mais endividados. O Euro, enquanto reserva de valor, terá seus dias contados.


Ainda é cedo para acreditar que outros países seguirão o RU, seja porque são economias mais frágeis e que se beneficiam de juros mais baixos por pertencer ao grupo, seja porque são economias mais fortes e que se beneficiam de moeda mais fraca. Optamos por não alterar nossas posições em função deste evento.


Podemos inferir também que o BREXIT ajudou a adiar eventuais elevações nas taxas de juros, contribuindo para que a liquidez permaneça farta aos países emergentes. O mundo está ansioso para investir no Brasil, falta apenas encerrar de vez o capítulo mais triste de nossa história republicana.


Atenciosamente,

André Gordon

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