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Carta do Gestor - Fevereiro de 2017

Prezado investidor,


Conforme havíamos sugerido na última carta de 2016, apesar do forte movimento dos mercados naquele ano, ao invés do final de um período de correção, estaríamos mais provavelmente diante do início de um novo ciclo.


Antes que os pessimistas de plantão e os mais afoitos venham apontar que o atual projeto de país tem um risco ainda elevado de ser abortado, já nos antecipamos em concordar que este risco existe de fato e que na hora que sua probabilidade de ocorrência for marginal, os preços estarão bem distantes do atual patamar.


A credibilidade emprestada pela atual gestão econômica foi fundamental para que os investidores voltassem a olhar o Brasil. A aprovação da PEC dos gastos obrigará a aprovação da Reforma da Previdência, se não exatamente como o projeto apresentado, ao menos preservando seus principais parâmetros, quer sejam, a idade mínima de 65 anos para a aposentadoria de homens e mulheres e a idade de transição para o novo regime, por volta dos 50 anos de idade.


Sabemos que as pressões políticas pelas mais diversas partes devem levar o governo a ceder nos demais pontos. Uma vez aprovada esta principal reforma, acreditamos que os juros reais de longo prazo deverão convergir para o nível de 4% até o final deste ano.


Também estamos diante de um cenário de queda mais acentuada tanto dos indicadores de inflação, quanto de sua expectativa. O mercado já trabalha com a inflação para este ano abaixo do centro da meta, o que deverá contribuir para acelerar ainda mais o processo de queda na taxa SELIC. Acreditamos ser provável a queda de 1% para a próxima reunião.


A atividade econômica certamente começará a reagir à combinação destas boas notícias com algumas medidas pontuais, como por exemplo, a liberação de recursos de contas inativas do FGTS, que devolverá alguns bilhões de reais para a economia.


Quais os riscos?

Saiu finalmente a tão esperada delação da Odebrecht. Diversos políticos implicados, mas aparentemente não houve nenhuma novidade em relação aos vazamentos que houve nos últimos meses. Ressaltamos aqui que preservando o presidente e seu principal ministro, todas as demais peças são substituíveis. O presidente tem a proteção natural da Constituição, salvo se houver cometido algum crime no atual mandato, o que não acreditamos.


Outro risco corriqueiramente e oportunisticamente apresentado seria o da anulação da chapa Dilma/Temer pelo TSE por conta de financiamento ilegal de campanha. Alguns importantes colunistas e comentaristas políticos dão como certa essa medida. Nós divergimos.


Há uma combinação de fatores que nos levam a crer que este tribunal acaba tendo pouca efetividade na prática, principalmente em virtude da lentidão dos processos. Tudo indica que o julgamento se dará num momento onde esta corte terá novamente uma maioria indicada pelo atual presidente.


Ainda assim, caso seja pedida a cassação da chapa, as discussões seriam longas e intensas. A defesa tentará provar que o então vice-presidente não fora o responsável pela arrecadação de fundos, o que lhe tiraria a responsabilidade pelos ilícitos. Há jurisprudência de vice que permaneceu no cargo depois que o titular, já afastado, fora condenado.


Ainda que a tese da acusação prevalecesse, a chapa concorrente também poderá ser implicada nos mesmos delitos, o que tornaria as discussões ainda mais inconclusivas. Por fim, o então presidente terá o direito aos recursos que à lei lhe confere.


Esse processo se arrastaria por meses, provavelmente se aproximando do período eleitoral de 2018. Nessa oportunidade, seria muito pouco razoável que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, assumisse interinamente a Presidência da República para convocar eleições indiretas para a conclusão deste sofrido termo presidencial, para poucos meses.


Ainda que este cenário negativo ocorresse, a esta altura, as principais reformas já estariam aprovadas, sendo a presidência interina bem menos relevante do que no atual momento.


O IBOVESPA fechou o mês com alta de 3,1% enquanto nosso fundo teve um desempenho de 11,4%, fechando o primeiro bimestre com quase 20% de retorno.


Devemos estes números ao excelente desempenho de nossas varejistas e empresas de properties, beneficiadas diretamente pela combinação de queda de juros e perspectivas melhores para a economia.


A empresa Via Varejo somou aos fundamentos macroeconômicos a aproximação de um desfecho para seu processo de alienação de controle, tendo atraído um elevado número de interessados e levando a expectativas de que possa haver um prêmio de controle substantivo.


Despedimo-nos por aqui, alertando nossos leitores de que as oportunidades sempre aparecessem, mas nem todos auferem destas os mesmos retornos.

Àqueles que se dispõe a olhar um horizonte mais longo, podem dar-se o luxo de assumir determinados riscos de curto prazo e que vemos muito mais como oportunidades de compras em preços muito melhores.


Atenciosamente,

André Gordon

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