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Foto do escritorAndré Gordon

Carta do Gestor - Fevereiro de 2016

Prezado investidor,


Passado o carnaval, a vida política retornou a Brasília. E o processo de Impeachment, que esteve adormecido desde o natal, voltou às manchetes com algum vigor. Alguns fatos novos contribuíam para esta nova investida contra o Governo da presidente Dilma Rousseff. A partir de alguns dos acordos de delação premiada, chegou-se a importantes elos entre as empreiteiras envolvidas em corrupção junto à Petrobras e o ex-presidente e líder maior do PT, Luís Inácio Lula da Silva.


Há evidências fortes de que um sítio em Atibaia e uma cobertura triplex no Guarujá foram comprados com recursos oriundos diretamente de empreiteiras com contratos com a Petrobras ou através de consultorias pagas por estas para o usufruto do ex-presidente. Também vazou a informação de que a presidente Dilma sabia de todo o esquema de corrupção envolvendo a Petrobrás, inclusive em relação à compra da refinaria de Pasadena. Ela sabia que parte de recursos desviados da empresa estatal alimentaram as suas contas das campanhas a presidência de 2010 e de 2014.


Como se isso não bastasse, também houve a prisão de João Santana e de sua esposa, principais responsáveis pelo marketing de campanha do PT nas últimas eleições. Ambos receberam recursos no exterior provenientes de empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras. Os fatos são bastante graves, principalmente tendo sido originados a partir da delação do ex-líder do Governo no Senado, senador Delcídio Amaral.


Aqui peço desculpas para copiar um parágrafo de nossa última Carta Mensal, referente a janeiro de 2016:


“Apenas para ilustrar o que estamos falando, o índice IBOVESPA quando medido em dólares, atingiu 9.000 pontos em janeiro deste ano, 29% inferior ao menor nível atingido durante a crise de 2008 e nível atingido há quase 20 anos, em

março de 1997. E pior ainda, o IBOVESPA atual não reflete exatamente o que se passa com grande parte das empresas listadas na BOVESPA, a maioria das quais pertencentes ao núcleo do nosso universo de investimentos.


O índice hoje é composto por empresas de qualidade mais elevada e de menor volatilidade de resultados como os bancos Itaú e Bradesco, a fabricante de bebidas AMBEV e outras empresas como Cielo, CETIP, BVMF, BB Seguridade, Raia Drogasil e Ultrapar, algumas das quais negociam em múltiplos bastante elevados ou de normalidade e que, conjuntamente, correspondem a 47% do índice, muito diferente da composição de 2008 quando Petrobras, Vale e as três principais siderúrgicas correspondiam a 45% do índice, enquanto os ativos de menor volatilidade como os que descrevi acima correspondiam a apenas 12,5% do índice.


Faço esse breve parêntesis para comentar que fora do índice IBOVESPA, que contempla as ações de maior liquidez, o estrago causado pelo aumento da aversão ao risco e saída de recursos de investidores diversos foi ainda mais agudo que o do índice. Dezenas de empresas estão sendo negociadas, literalmente, a preços de banana, a fração de seu patrimônio líquido e ao seu preço de reposição. A maioria deste universo teve queda de preços nos últimos doze meses superior a 60% e desde as eleições quedas superiores a 75%”.


Os preços de boa parte dos ativos negociados na BOVESPA encontravam-se num nível absolutamente não condizente com um país com perspectivas de sair desta grave crise em algum momento futuro. A única justificativa para tamanha depressão seria acreditar que o rumo à “venezuelização” era um caminho inexorável. E isso mesmo à luz dos recentes movimentos no continente, expurgando e enfraquecendo os governos populistas e de orientação marxista.


Seguimos acreditando que o segundo Governo Dilma, que vagamente ameaçou iniciar-se quando da nomeação do Ministro Joaquim Levy, acabou enterrando suas últimas fichas juntamente com as péssimas escolhas feitas desde então pela presidente. Agora é saber como se dará o enterro de fato deste cadáver insepulto que é o Governo Dilma, o pior que o Brasil conheceu pelo menos desde a Abertura dos Portos em 1808.


E diante das primeiras evidências de que este Governo deve se encerrar antes de janeiro de 2018, o mercado iniciou uma forte reação. A BOVESPA encerrou o mês com 5,9% de alta e nosso portfólio, cuja estratégia principal foi completada pelo que chamamos de “kit impeachment”, teve um desempenho de 8,8% positivo.


Acreditamos que esse processo de recuperação de preços dos ativos está muito no início e tende a ser favorecido com a recuperação também de preços das principais commodities. Ainda acreditamos que o país, desde que em melhores mãos, consegue retomar uma trajetória de crescimento com relativa rapidez e partindo de uma base mais favorável do que foi em 1995, quando FHC assumiu o Governo após o sucesso do Plano Real. O cambio flutuante e o elevado nível das Reservas Internacionais vem favorecendo um rápido ajuste em conta corrente ao mesmo tempo em que funcionaria como um redutor da dívida líquida consolidada do setor público, no caso de uma depreciação mais forte do real.


A maioria das empresas de nosso portfólio fizeram fortes ajustes em seus custos e acreditamos, serão as campeãs em seus respectivos setores, assim que houver a retomada da atividade.


Por fim, acreditamos que hoje, o material disponível para que se encerre esse triste capítulo de nossa história é mais do que suficiente, graças ao excelente trabalho desempenhado pelo juiz paranaense Sérgio Moro, cujo brilho enquanto servidor público já tem mais de uma década, mas que vem sendo consagrado por sua coragem e determinação em conduzir as investigações pertinentes ao maior esquema de corrupção que se tem notícia na história. A operação Lava-Jato será um divisor de águas em nossa história caso seja levada até o final. Agora, no início de Março, há manifestações marcadas em mais de 200 cidades pelo Brasil afora. A participação popular maciça é o último elemento que falta para que os congressistas acelerem o rito do processo de Impeachment na Câmara dos Deputados.


Dilma não tem demonstrado um mínimo de patriotismo ou de inteligência política, características que sugeririam a ela a renúncia imediata à presidência. O TSE, por sua vez, já sinalizou que há farto material comprometedor em campanha que elegeu Dilma, tanto em relação a 2010 quanto às eleições de 2014. E parte das provas obtidas na operação Lava-Jato foi anexada aos quatro processos em andamento. Entendemos que o TSE prefere não assumir esta responsabilidade neste momento, tendo como protelar estes julgamentos e até transformar as punições aos culpados em multas ou até a suspensão do acesso do PT ao Fundo Partidário.


Dito isso, o mais provável é que o rito do Impeachment siga seu curso através do Congresso Nacional. O processo até pode ser linear, mas o mais provável é que encontre obstáculos pelo caminho e, portanto, que a volatilidade nos mercados permaneça elevada.

Para navegar em mares turbulentos, além de bons instrumentos de navegação e uma embarcação sólida, é importante e necessária a vontade de se chegar ao seu destino.


Atenciosamente,

André Gordon

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