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Foto do escritorAndré Gordon

Carta do Gestor - Dezembro de 2016

Prezado investidor,


O ano de 2016 será certamente um daqueles que guardaremos para sempre em nossas memórias. E os sentimentos relacionados a este ano não serão poucos e nem homogêneos. 2016 foi um divisor de águas não apenas para o Brasil, mas num espectro mais amplo, para a economia e geopolítica global.


Em 2016, contrariamente as projeções de renomados institutos de pesquisa e da grande mídia, os britânicos votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia. Esta pode ter sido a pedra fundamental de um longo processo de esfacelamento deste “projeto globalista”, que avançava continuamente, desde o final da Segunda Guerra Mundial, com a sua proposta de paz entre antigos inimigos e eliminação das fronteiras ao longo dos anos.


A aceitação da Turquia parecia que seria o maior desafio do bloco, mas não foi. O excesso de regulação e controles, além do descontrole total das fronteiras, resultando na imigração em massa de refugiados muçulmanos, somados à insatisfação das nações mais prósperas com o descalabro fiscal das nações periféricas, que culminou com a grave crise de 2011, contribuíram para a grande e crescente insatisfação entre os europeus das mais diversas nações. O Reino Unido foi o primeiro, mas há uma tendência, nas próximas eleições e nos mais diversos países, de que sejam vencidas por governos de cunho mais nacionalistas e contrários ao projeto europeu.


Os norte-americanos disseram BASTA à continuidade do projeto político do partido Democrata e elegeram o até então improvável Donald Trump, deixando de queixo caído e desorientados jornalistas, âncoras e apresentadores de diversas redes de comunicação ao redor do mundo. Esperamos que esta nova administração inicie um lento processo de desregulação nos mais diversos setores da economia.


O recado dos norte-americanos foi no sentido de se distanciar do caminho da social-democracia e voltar-se novamente para o capitalismo, para a economia de mercado, com menos interferência do governo e, de preferência, com menos impostos. Com o domínio das duas casas legislativas, temos o conforto de que o Partido Republicano não abandonará seus princípios fundamentais de disciplina fiscal e de estímulo ao comércio, com a ressalva de que poderá haver algum endurecimento contra países que não praticam a economia de mercado tal como o desejado, como a China.


Nossa América Latina, há tanto dilapidada pelo projeto do “Socialismo do Século XXI”, começou a difícil tarefa de se reconstruir, a partir das cinzas. A Argentina elegeu Mauricio Macri, que imediatamente deu um choque de liberalismo à economia: eliminou subsídios nas tarifas, liberou a taxa de câmbio, renegociou pagamentos com credores. Na Venezuela a situação ainda é caótica. O país está à beira de uma guerra civil. A carestia é generalizada. O governo de Nicolas Maduro está por um fio e há muito deixou de ter qualquer legitimidade. Até do Mercosul o país foi afastado temporariamente.


Finalmente, no Brasil, depois de um longo processo de destruição das finanças públicas e do país ter sido submetido ao maior esquema de corrupção da história moderna ao longo dos últimos 14 anos, o governo do PT chegou ao fim, após um longo e interminável processo de Impeachment. Nesse período, milhões de empregos foram destruídos e centenas de milhares de pontos de venda tiveram suas portas fechadas. A atividade industrial sofreu sua maior redução em décadas e o setor de construção civil quase parou. O Brasil vive sua maior crise econômica da história, com o PIB tendo caído mais de 8% nos últimos dois anos.


O presidente Michel Temer assumiu interinamente e, após a votação pelo Senado Federal, em definitivo, a presidência da República. Enquanto interino, teve menor grau de liberdade para governar, pois sofria fortes chantagens por parte de senadores. Depois de efetivado, Temer mostrou bastante força política e poder de articulação. Conseguiu, neste curto período, avançar em diversas frentes: aprovou a nova Lei de governança para as Empresas Estatais, desobrigou a Petrobras de investimentos obrigatórios em todos os campos do pré-sal e a recuperou de uma situação limítrofe, através da venda de mais de USD 13 bilhões em ativos e da nova política de preços para os combustíveis.


Além disso, Temer aprovou o novo marco de responsabilidade fiscal - PEC 55 - limitando os gastos públicos pelos próximos 20 anos em termos reais, promoveu a Reforma no Sistema de Ensino, há muito paralisada no Congresso e, nos últimos dias do ano, ainda teve tempo para encaminhar para o Congresso as importantes Reformas da Previdência e Trabalhista, que esperamos ver aprovadas por volta de meados de 2017.


Em paralelo, montou o melhor time que já tivemos na Fazenda, permitindo ao BC autonomia de fato. Esta autonomia contribuiu para a convergência das expectativas de inflação para o centro da Meta. Para surpresa de todos, mesmo a inflação de 2016 deve encerrar o ano dentro do intervalo de tolerância, abaixo de 6,5%. Diante deste cenário, o BC promoveu a primeira redução na taxa Selic desde 2012, no mês de outubro. Esperamos que haja uma aceleração neste processo já na reunião de janeiro. Acreditamos que o novo corte será de 0,50%, mas não nos surpreenderíamos com um corte de 0,75%. A atividade mais fraca, o desemprego elevado, o Real apreciado e a elevada capacidade ociosa na indústria são fatores que permitiriam este movimento.


A queda nas taxa de juros num ambiente de disciplina fiscal e uma agenda positiva de reformas devem impulsionar a atividade econômica já neste início de ano, lembrando também que o nível dos estoques está relativamente baixo, principalmente em face de uma retomada.


E em meio a um início de ano muito complicado, quando a maioria dos investidores não acreditava no sucesso do Processo de Impeachment, tivemos em janeiro nosso terceiro pior resultado em 13 anos. Tínhamos, entretanto, a convicção que não era “se” e sim “quando” este processo seria concluído. Há muito já não havia a menor condição política ou moral para que Dilma terminasse seu mandato. Mantivemos nossas posições naquelas empresas que acreditávamos que se beneficiariam deste novo ambiente. Conforme o mercado passou a atribuir probabilidades crescentes para o sucesso do impeachment, nosso desempenho foi se recuperando rapidamente.


Após o afastamento de Dilma, o mercado ainda permaneceu cético quanto à capacidade política de Michel Temer. Foi um período ainda de volatilidade alta, onde pequenos sustos tiveram potencial de se converterem rapidamente em pânico. E se esse ambiente afasta um determinado perfil de investidor, termina por oferecer boas oportunidades de investimento para aqueles com horizonte um pouco mais longo.


Em 2016 o IBOVESPA subiu 38,9%, seu melhor desempenho desde 2009. Já nosso fundo superou o desempenho do IBOVESPA em mais de 50 pontos percentuais, tendo encerrado o ano com 90,6% de retorno.


E apesar desta forte valorização, estamos confiantes de que 2017 tende a ser outro ano bastante favorável. Como mencionamos no início desta carta, a agenda de Temer é bastante positiva. O risco dele não concluir seu mandato, seja por alguma implicação na Lava-Jato, seja pela perda de apoio político oriundo de uma não retomada da atividade, podem até trazer mais volatilidade, mas não cremos que haja o risco de que um eventual novo postulante ao cargo não siga adiante com esse caminho das reformas e da disciplina fiscal. Tanto menor será este risco quanto maior for o avanço na agenda ao longo deste primeiro semestre, em particular com a Reforma da Previdência.


A inflação de 2017 deve se aproximar rapidamente do centro da meta, de 4,5%. As expectativas quanto à inflação de 2018, certamente estarão abaixo deste patamar, oferecendo espaço para que os juros sejam reduzidos para até 10% ao final deste ano. E neste cenário de juros em queda moderada e atividade tendendo a se recuperar, insistimos em investimentos nos setores que tendem a colher estes frutos, seja por um ou outro fator, sejam pela combinação dos dois.


Gostamos do setor de shoppings e aluguéis corporativos, varejo de vestuário e de bens semiduráveis, financeiro, de logística e de infraestrutura. Seguimos investidos, predominantemente, em empresas de menor capitalização de mercado e cujos preços estão bastante distantes de seus fundamentos. Conforme o cenário for ficando mais claro, os juros ficando mais baixos, investidores de mais longo prazo tendem a elevar suas alocações nas empresas brasileiras. Em nossas investidas e frente ao atual desconto por liquidez, a tendência é que seu desempenho seja novamente recompensador.


Agradecemos a confiança de nossos investidores, que resistiram bravamente quando tudo parecia bem obscuro e aproveitamos para desejar a todos um ótimo 2017, que traga consigo de volta a nossa confiança de que o Brasil pode dar certo.


Atenciosamente,

André Gordon

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