Carta do Gestor - Abril de 2025
- André Gordon
- 6 de mai.
- 4 min de leitura
Prezados Cotistas,
A “Guerra Tarifária” continuou ao longo do mês de Abril de 2025. Ainda teremos muita incerteza quanto a evolução deste tema e de suas consequências para a economia das diversas nações assim como preço dos ativos. Podemos, ao menos diagnosticar que o foco está colocado sobre a China justamente por ser o grande país superavitário em relação aos EUA.
Obviamente a redução dos déficits nos EUA passaria pela redução no superávit Chinês. Dezenas de países atenderam ao chamado e foram negociar com os EUA. Como compensação, Trump suspendeu as diversas alíquotas em relação a eles e estabeleceu a alíquota adicional de 10%, válida por 90 dias. A China, entretanto, optou por confrontar a elevação das tarifas norte-americanas com a elevação de suas tarifas contra os EUA. O Governo Trump elevou para 125% a alíquota de importações da China que, por sua vez, retaliou com os mesmos 125%. Neste nível há uma quase paralisia nas transações entre essas duas nações.
Resumidamente, o que começou com a aparência de um movimento desordenado e generalizado, neste momento parece bem mais pontual e bastante concentrado no desequilíbrio de comércio com a China. Ainda sob efeito do aumento de risco percebido, o S&P 500 e o Dow Jones caíram respectivamente 0,76%, e 3,17%, enquanto o Nasdaq subiu 1,52%, já que Trump anunciou também suspensão de tarifas sobre diversos dispositivos eletrônicos, favorecendo as empresas de tecnologia, com maior peso neste índice.
Nossos Fundos GTI DIMONA, GTI HAIFA e GTI NIMROD subiram 5,14%, 5,27% e 4,96% enquanto o IBOVESPA subiu 3,7%. O Dólar foi o grande perdedor do mês, tendo se depreciado 4,4% em relação a cesta de moedas, apesar de ter perdido apenas 0,45% em relação ao Real. Os treasuries voltaram a fechar marginalmente suas taxas ao longo da curva, com o título de 10 anos negociando a 4,17% e o de 2 anos a 3,65%, sugerindo possível recessão à frente.
Os mercados passaram a precificar ao longo deste ano de 2025 4 cortes de 25 pontos na taxa básica, nas seis reuniões remanescentes. Alguns sinais de desaceleração da atividade já se mostram mais presentes, mas os estimadores de inflação seguem persistentes e próximos a 3% ao ano, o que tem levado os membros do FED a uma postura mais conservadora nesse processo de redução da Taxa Básica. Essa menor velocidade tem colocado o presidente do FED Jerome Powell na rota de colisão com Donald Trump, gerando ruídos antes mais discretos e incomuns nas economias mais maduras.
No Brasil, também encontramos alguns sinais de desaceleração na atividade, mas os gastos públicos têm se apresentado em sentido contrário, dificultando o trabalho do BC. As projeções para a inflação dos próximos anos pararam de se deteriorar, mas ainda substancialmente acima da meta de 3% para o horizonte relevante. A apreciação do Real e a queda de preços das principais commodities, têm ajudado nessa contenção de expectativas. Esperamos para a próxima reunião do COPOM uma última elevação da taxa básica entre 25 e 50 pontos-base. O trabalho do BCB estaria assim concluído, deixando para a Fazenda e Planejamento os sinais de maior disciplina fiscal. Seria desejável um superávit primário de ao menos 2%, para que a relação entre dívida líquida e PIB permanecesse no atual patamar. Somos céticos, entretanto, quanto à disposição do atual Governo em conter suas despesas, principalmente às vésperas de um ano eleitoral.
Os casos de corrupção que aparecem, como o mais recente envolvendo o Ministério da Previdência, contribuem para o desgaste da imagem do Governo. Isso acaba implicando em maior propensão a gastos ou medidas de caráter populista, como a proposta de reduzir a jornada de trabalho do atual patamar de 6 x 1. Não podemos deixar de destacar que a inabilitação do ex-Presidente, Jair Bolsonaro, hoje nos parece amparada em fragilidade jurídica e de possível reversão no TSE. Por outro lado, o processo conduzido no STF e que busca ligar Bolsonaro ao tumulto ocorrido em 08/01/2023 também parece eivado de vícios. A condenação no STF pela suposta tentativa de Golpe de Estado, excluiria, definitivamente da vida política.
O que para alguns seria uma certeza, neste momento de estranheza jurídica, pode acabar tendo o efeito contrário. Uma analogia pode ser feita a partir do que ocorreu com Donald Trump, que passou 4 anos enfrentando dezenas de processos, inclusive de Golpe de Estado (6/1). Para a surpresa de muitos, que o consideravam um “cadáver político”, sua vitória com a maioria nas duas casas legislativas foi uma resposta inconteste.
Diante desse quadro de instabilidade política e de desequilíbrio fiscal, mas numa conjuntura global, o Brasil é em um porto mais seguro, já que exporta commodities e tem relação equilibrada com os EUA. O nível de atividade continua resiliente, sendo que pioras marginais tenderiam levar a uma nova mudança de rumo a partir das eleições de 2026. Seguimos investidos tanto em empresas mais voltadas a exportação, quanto em empresas voltadas a atividade doméstica, mas que seguem com forte geração de caixa operacional, mesmo no atual momento.
Neste mês as empresas ligadas à commodities foram as grandes detratoras do resultado, com destaque para a queda de 25% nas ações da Brava, respondendo a queda de 15% no preço do petróleo e subtraindo 1% de nosso resultado. A queda de 2,5% no preço do minério de ferro e do alumínio levou as ações da Vale e da CBA também a quedas expressivas, de 6,8% da primeira e 18,3% da produtora de alumínio. Suzano e Gerdau também tiveram fortes quedas, sendo que o conjunto dessas 5 empresas subtraiu 3,1% do fundo. A queda forte na curva de juros doméstica ajudou bastante o movimento de correção das empresas voltadas à economia doméstica.
As ações da Simpar subiram 32%, contribuindo com 1,5% de nosso desempenho seguida pela forte alta nas ações do Itaú, Lojas Renner, Multiplan, Log CP, entre outras, cujas altas no mês estiveram entre 10% e 20%.Para os próximos meses, além do esperado desfecho do Trade War esperamos cortes de juros na Europa e EUA e que a curva de juros doméstica comesse a refletir a esperada convergência da nossa inflação para mais próximo de 3% em 2026 e 2027. Obviamente que essa premissa está umbilicalmente ligada aos sinais de alguma sobriedade fiscal, preferencialmente com a contenção de despesas.
O retorno esperado para os ativos, no atual nível de preços e diante das condições elencadas acima, tende a ser bastante compensador, mesmo tendo o CDI como benchmark. Apertem os cintos, pois a viagem seguirá com algumas emoções!!!

Alocação setorial - GTI Dimona Brasil FIA
Atenciosamente,
André Gordon.
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