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Carta do Gestor - Abril de 2017

Prezado investidor,


No mês de abril começamos a perceber alguma melhora nos indicadores de varejo, quando os confrontamos com os dados esperados. Também houve uma revisão na metodologia de cálculo de alguns destes indicadores, corroborando o sentimento de que o mês de janeiro havia sido bom. Os índices de preços também permaneceram comportados e as expectativas para inflação para este e para o próximo ano já se encontram abaixo da meta de 4,5%. Com elevada capacidade ociosa na indústria e desemprego atingindo novo recorde, o BC reduziu a taxa SELIC em 1%, para 11,25%, num movimento acertado. Esperamos que para a próxima reunião, pelo menos, teremos outo corte da mesma magnitude.


Ao analisar os mais diversos indicadores econômicos, tudo indica que a recessão está ficando para trás. Esse processo de retomada da atividade tem se mostrado mais demorado e mais fraco do que prevíamos imediatamente após o impeachment. Acreditávamos que, dada à precária situação em que as finanças públicas e a atividade se encontravam, ao menos dentre os congressistas que compunham a base de apoio ao Governo, encontraríamos poucas resistências aos projetos de reforma. Infelizmente, as tradicionais negociatas e troca de favores entre os políticos não parecem se sensibilizar com os 14 milhões de desempregados. Os opositores ainda menos. E justamente por conta destes interesses menos republicanos que estamos nos deparando com sucessivos adiamentos no cronograma da principal reforma, a previdenciária e também com as alterações em alguns pontos relevantes.


A operação Lava Jato segue avançando e, com isso, acabou enfraquecendo alguns importantes articuladores políticos de Temer. Mesmo assim, o presidente tem se mostrado muito habilidoso. Cedeu quando percebeu que seu projeto estava em risco e engrossou a voz quando entendeu que havia a necessidade de mostrar que há limites. E deste ambiente fragilizado e conturbado que é o Congresso Nacional, a Comissão Especial aprovou o projeto que será levado para votação em plenário, a princípio neste mês de Maio. Dentre as alterações feitas pelos deputados, reduziu-se a idade de aposentadoria para as mulheres, de 65 para 62 anos, preservou-se a idade especial para algumas categorias como policiais e professores e reduziu-se de 49 para 40 anos o tempo de contribuição para o recebimento da aposentadoria integral.


As estimativas de redução na economia orçamentária variam entre 25% até 35%. Nossa análise é que o ótimo é inimigo do bom e que é melhor uma ave na mão do que duas voando. Se o projeto como está for aprovado nas duas casas, será dado um importante sinal para os investidores de que o orçamento será respeitado pelos próximos anos e de que tão logo haja uma recuperação mais significativa do produto, começaremos a ver a relação entre dívida e PIB cair, adentrando um círculo virtuoso.



Em virtude dos fatores apontados acima, nossos investimentos no setor de varejo foram os principais responsáveis pela variação positiva de 3,8% do fundo no mês. Nossa principal exposição no setor, a Guararapes subiu 20,6% enquanto as ações da Via Varejo subiram 14,9%. Outro destaque foi o retorno de 22% da Cia. Hering, que finalmente encontrou variação positiva na venda através do canal de multimarcas e com expansão de margens. Com a consolidação deste cenário de retomada de atividade, acreditamos que o setor de varejo ainda tem um grande espaço para recuperação de vendas, margens e, consequentemente, preço das ações.


No final do mês, adicionamos ao nosso portfólio ações da empresa de saneamento de MG, a COPASA. Acreditamos que houve uma subavaliação de seus ativos regulatórios em seu ciclo de revisão tarifária, mas que deve ser revisada após a audiência pública neste mês de Maio. As ações perderam um terço de seu valor e a empresa passou a ser negociada por volta de sete vezes seu lucro líquido. Sabemos que quaisquer estatais estão sujeitas às intempéries políticas, ora para o bem, ora para o mal. Por outro lado, ativos em serviços essenciais têm, como contrapartida, grande previsibilidade em sua demanda e, cedo ou tarde, distorções que levem aos desequilíbrios financeiros e em sua necessidade de investimentos, acabam sendo corrigidas.


E matando um leão por dia, o governo de Michel Temer segue avançando em sua agenda, ainda com uma popularidade pífia, mas vendo a cada dia o seu risco operacional ser reduzido. Em abril houve o adiamento do julgamento do TSE e agora aproximamo-nos dos dois principais desfechos remanescentes. O primeiro, desta importante reforma da previdência, cuja esperada aprovação na Câmara dos Deputados deve significar o sucesso deste evento e, em paralelo, das principais delações premiadas da operação Lava-Jato. Na ausência de fatos novos, a operação deve entrar numa lenta fase de indiciamentos e abertura de processos, mas cujos resultados devem levar um horizonte de tempo suficientemente longo para que o governo possa focar, finalmente, nos bons resultados que devem vir da atividade econômica e dos quais estamos há tanto aguardando. Nesse cenário, os preços das ações devem continuar avançando.


Atenciosamente,

André Gordon

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