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Carta do Gestor - Abril de 2016

Prezado investidor,


O Brasil segue sendo um país suis generis. Temos instituições sólidas, temos excesso de leis. Temos eleições regulares e com o voto secreto. Mas isso por si só não é o suficiente para caracterizar um regime democrático pleno. O nosso maior problema é que as instituições foram aparelhadas ao longo destes últimos anos pelo governo do PT, de forma que elas tornaram-se disfuncionais. Considero nosso sistema antes uma ditadura democrática do que uma democracia como desejada.


Estamos muito próximos de uma mudança fundamental no país. O Senado Federal, por uma maioria bastante ampla e superior àquela necessária (maioria simples de quórum de 41 senadores), acatou o recebimento do pedido de impeachment, que por sua vez fora aprovado pela Câmara dos Deputados por mais de 70% dos votos em 17 de abril. Caso os senadores mantenham seus votos no julgamento que acaba de ser admitido pelo Senado Federal, a presidente Dilma será definitivamente impedida e afastada. O vice-presidente Michel Temer assumirá a presidência interinamente por até 180 dias ou enquanto durar o processo no Senado e formará um governo de coalizão com os principais partidos do país, à exceção do PT e seus congêneres. Caso o Senado Federal confirme o impedimento da presidente, Michel Temer assume definitivamente a presidência com mandato até 31 de dezembro de 2018.


Ao longo deste longo processo que já dura mais de 8 meses desde o recebimento do Pedido de Impeachment pelo então presidente da Câmara dos Deputados, a presidente Dilma não conseguiu preservar os partidos de sua base como o PMDB, PSD, PTB, PR e PP. Ela não foi hábil em reconhecer seus graves erros e muito menos ousou fazer uma defesa procurando justificar suas ações. Preferiu se voltar às bases radicais como o MST, MTST e CUT, representados pelo PT, PSOL, PCdoB e, ainda que de maneira covarde, pela Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.


Toda a sua defesa foi caracterizada, não pela tentativa de justificar os crimes de responsabilidade cometidos pelo seu Governo, mas por tentativas atabalhoadas e desastradas de tentar desqualificar o processo, totalmente amparado pelas instituições da República, como também de procrastiná-lo ad nauseam, enquanto a economia do país seguia se deteriorando. No fundo, Dilma e o PT demonstraram que a única coisa que lhes importa é o projeto de poder, relegando os interesses nacionais para a lata do lixo.


Acreditamos que esse afastamento da presidente será definitivo. O PT e seus congêneres certamente farão uma oposição ferrenha ao novo governo que deverá contar com uma ampla maioria. Vale recordar que essa oposição não será uma novidade. Desde sua fundação, o PT sempre foi oposição aos governos vigentes, tendo se destacado na oposição à Constituição de 1988, ao Plano Real e as importantes reformas estruturais ao longo dos anos de governo FHC. Esperemos apenas que o novo governo saiba usar a Lei no caso em que esta oposição extrapole os limites estabelecidos pela democracia.


Feito este prólogo, podemos afirmar que o processo de impeachment já está amplamente sendo levado em conta pelos mercados. O que ainda não parece estar nos preços é a operacionalidade do novo governo liderado pelo Michel Temer. Ainda pairam no ar diversas dúvidas quanto aos processos que seguem no TSE, quanto à tão propagada judicialização do processo pelo PT, quanto ao apoio dos principais partidos de oposição e até mesmo quanto à paz nas ruas. Somos bastante otimistas quanto a estes pontos. Acreditamos que até o final deste ano, boa parte destes riscos e incertezas cederá espaço para a esperança e para a retomada da confiança dos empresários e dos consumidores.


Em meio a esta evolução no quadro político, o índice IBOVESPA teve um desempenho de 7,7%, nosso fundo subiu 14,1% e o Real se valorizou em pouco mais de 4%. A atividade econômica segue bastante deprimida, principalmente devido à combinação entre desemprego elevado e redução nos investimentos do setor privado. Muitos empresários parecem que se encontram no “modo de espera”, seja para uma nova rodada de ajustes, seja para retomar seus investimentos. Lembramos aos nossos leitores que apenas em 2015, em torno de 100.000 pontos de venda foram fechados no varejo. O lado negativo deste processo é o aumento do desemprego.


Por outro lado, as empresas que remanesceram desta longa agonia encontrarão um potencial de ganho de mercado. São as sobreviventes. Sairão desta crise ainda mais fortes, ainda mais competitivas. Nosso portfólio contempla alguns destes nomes que conseguiram preservar uma saúde financeira adequada neste período. Parte deste sucesso se deveu ao ganho de mercado junto aos concorrentes mais fragilizados.


Seguimos plenamente alocados em ações e investidos em setores mais voltados para o mercado doméstico e que tendem a ter um desempenho potencializado com a retomada da atividade econômica. Gostamos principalmente dos setores de varejo, de locação imobiliária e de infraestrutura. Estes setores serão particularmente beneficiados com a queda de juros que deverá ocorrer ao longo dos próximos meses e da retomada tanto de investimentos em infraestrutura quanto da confiança do consumidor.


Os pilares que nortearão nossa estratégia ao longo deste governo que ora assume serão o compromisso com um ajuste fiscal, majoritariamente amparado por redução de despesas, a volta da autonomia de fato para o Banco Central (que deverá ceder espaço para a sua independência) e para reformas de mais médio e longo prazo como a previdenciária e a tributária a partir da desvinculação das receitas da União.


Seria uma surpresa positiva se, além destas acima citadas, também houvesse o esforço para uma reforma trabalhista e uma reforma política com a adoção do voto distrital e fim da obrigatoriedade do voto. Também somos bastante otimistas quanto à retomada de uma agenda de privatizações e concessões para estradas, portos, aeroportos e infraestrutura. Estaremos atentamente monitorando o desenvolvimento desta agenda positiva. No evento de sucesso pleno, estaremos falando de um novo Brasil em termos de risco país, de taxa de juros reais e, consequentemente, de precificação de ativos.


Concluindo, há sinais claros de que o projeto obsoleto e criminoso de poder que o Brasil esteve submetido nos últimos 14 anos está se encerrando. Há um entendimento por parte majoritária de nossos representantes e formadores de opinião de que o Estado brasileiro cresceu demais e deve diminuir e de que a qualidade dos serviços prestados por esse Estado terá que melhorar com menos recursos, ou seja, com melhora na gestão. Isso passará por atrair a iniciativa privada.


Podemos estar iniciando uma nova e longa tendência de alta. Entendemos que ainda há riscos de diversas matrizes. Sabemos que entre nossos desejos e a realidade política do país, haverá frustrações. Por outro lado, não temos nenhuma dúvida de que quando o cenário parecer atraente, os preços das ações destas empresas sobreviventes serão significativamente superiores aos preços de hoje. Ainda há tempo para que os investidores obtenham retornos diferenciados num horizonte de médio e de longo prazo.


Atenciosamente,

André Gordon

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