A entrada de uma profilaxia viável tem o potencial de trazer uma forte euforia nas bolsas, mas é preciso analisar quem tem maior potencial de valorização
Por Ricardo Bomfim publicado no site da Infomoney em 16 nov 2020 11h53
SÃO PAULO – Desde o início do ano a comunidade científica se empenha em um esforço global inédito para produzir uma vacina efetiva contra o coronavírus.
De 47 em fase de testes, dez estão na fase 3, a última antes de uma possível aprovação e, na última semana, a Pfizer e a BioNTech trouxeram muito otimismo ao anunciarem que sua vacina teve 90% de eficácia nos grupos de controle. Já nesta semana, a
Moderna informou que sua vacina experimental foi 94,5% eficaz, de acordo com uma análise preliminar.
O presidente americano Donald Trump chegou a prometer uma profilaxia para este mês, enquanto o governo russo já encaminhou à Organização Mundial da Saúde (OMS) um pedido de aprovação emergencial de sua vacina Sputnik V. Conquanto dificilmente se concretizem as previsões mais otimistas de aprovação e distribuição ampla de uma vacina para novembro, parece seguro afirmar que o mundo está cada vez mais próximo de uma profilaxia segura contra a Covid-19.
Quando ela chegar, é provável que os mercados globais sejam tomados por uma euforia minimamente proporcional ao pânico de março. É por isso que gestores já elegem suas ações favoritas para capturar esse movimento.
Shoppings
Renato Ometto, gestor da Mauá Capital, acredita que um cenário de vacina aprovada, eficaz, viável e amplamente distribuída beneficiaria principalmente o setor de shopping centers.
“Os fluxos nesses centros melhoraram desde o momento mais rigoroso da quarentena, mas as pessoas ainda estão receosas de irem ao cinema ou às praças de alimentação. As pessoas mais velhas também estão indo menos a shoppings, então é um dos setores que ainda não voltou totalmente ao normal”, explica.
Marcos Peixoto, gestor da XP Asset, também acredita em shoppings e defende que Multiplan (MULT3) é a empresa mais bem posicionada para captar o provável aumento do fluxo pós-vacina. “É uma companhia com um portfolio muito bom, de muitos centros bem localizados e mais voltados para os segmentos de média e alta renda”, avalia.
O padrão de consumidor, segundo ele, influencia porque as grandes lojas naturalmente são mais resistentes a crises do que as pequenas, que dependem de muito movimento. “Se uma empresa tiver que fechar 10 lojas não vai fechar aquelas em que os clientes têm maior poder aquisitivo.”
Cassio Bruno, gestor da Moat Capital, é outro defensor dos shoppings e também enxerga maiores oportunidades em Multiplan. “Shoppings de maior qualidade vão se tornar mais fortes. Nenhum está com problema de vacância muito grande e quando tudo voltar ao normal vão poder cobrar o aluguel cheio das lojas”, comenta.
Vale lembrar que diversas administradoras de shopping centers tiveram que oferecer descontos nos aluguéis das lojas para combater o aumento nos níveis de inadimplência causados pela paralisação das vendas.
Em busca de bons negócios mais fora do radar, os gestores da LIS Capital já estão posicionados em Jereissati Participações ([ativo=JPSA3]), controladora do mais conhecido grupo Iguatemi (IGTA3).
“Via Jereissati conseguimos comprar Iguatemi com desconto. Ela é bem menos líquida que a Iguatemi e isso justifica parte do desconto no valuation de uma para a outra, mas as perspectivas que temos mais do que compensam esse desconto”, argumenta.
Por fim, Rodrigo Glatt, gestor do fundo GTI, apontou brMalls (BRML3) como sua favorita entre os shoppings. “É a ação mais barata do setor tem tido uma gestão muito ativo no portfolio. O trabalho da gestão atual foi muito bom nos últimos dois anos, além de ser uma empresa muito próxima do acionista, com recompras e pagamento de dividendos”, explica.
Glatt entende que o desconto com que a brMalls negocia em relação aos pares é injustificado, visto que a companhia tem feito boas iniciativas em termos de digitalização, criação de market place e anúncio de que migrará para o segmento Novo Mercado da B3, o de maior governança corporativa.
Varejistas de vestuário Quase tão popular nas recomendações dos gestores está o segmento de varejo de roupas. Marcos Peixoto declara que sua favorita no segmento é a C&A (CEAB3), que sofreu muito durante a pandemia porque a maior parte de suas receitas provêm de lojas em shoppings.
No entanto, Peixoto assegura que a companhia fez a lição de casa na crise, fortalecendo suas vendas online e hoje as margens da varejista já estão menos comprimidas do que as da rival Renner (LREN3).
“A ação estava em R$ 19 antes da crise e agora está em R$ 13, então o potencial de valorização é muito bom.”
Já Cassio Bruno afirma estar de olho justamente em Lojas Renner e também em Guararapes (GUAR3).
“São empresas mais premium, que estão bem posicionadas para ganharem com a volta da economia. Achamos que se tiver uma vacina, no curto prazo, todas as empresas mais beneficiadas são as que vendem para consumidores de renda alta.” Guararapes também é a favorita da equipe da LIS Capital. “É uma empresa com resultados estáveis e um fluxo de caixa bastante resiliente. Está sofrendo no curto prazo, mas deve se recuperar”, avalia.
A LIS analisa que a companhia passa por um professo de profissionalização muito bem-vindo com o vistas ao aumento do free float (ações em circulação no mercado), investimento em ESG e ominicanalidade e aumento da transparência nas decisões.
Além disso, a Guararapes ainda tem muito potencial de geração de caixa com a venda de mais de 50 lojas próprias e do shopping Midway em Natal (RN). “Vendendo parte disso a estrutura de ativos melhora e a empresa terá mais disponibilidade de caixa.” Rodrigo Glatt também gosta do case da Guararapes e defende que a venda de ativos da empresa é interessante porque boa parte desses pontos, como o shopping Midway, não possuem seu valor reconhecido pelo mercado, que preferiria ver um foco maior nas operações da Riachuelo, principal marca da varejista.
Bancos
Também citados por boa parte dos gestores estão as instituições financeiras, que apesar das fortes altas registradas ao longo dessa temporada de resultados do terceiro trimestre, ainda estão bem abaixo dos patamares pré-crise.
O banco preferido de Marcos Peixoto é o Bradesco (BBDC3; BBDC4), pois a instituição está mais descontada e tem mais espaço para melhorar, principalmente na parte digital. Outro ponto positivo é que, para ele, a inadimplência do Bradesco deve cair mais rápido que a de outros bancos.
A LIS Capital, por sua vez, sustenta que os bancos se prepararam para o “fim do mundo” pelo tamanho das provisões realizadas, mas o apocalipse esperado não chegou e a inadimplência aumentou bem menos que o esperado.
“Com a normalização da economia, as instituições financeiras vão parar de provisionar e podem até reverter parte das provisões anteriores, reconhecendo como ganhos aquilo que os balanços anteriores registraram como perda”, explica.
O banco favorito da gestora é o ABC Brasil (ABCB4), caso conhecido mais de perto pelos especialistas e que vive atualmente o cenário descrito acima. “O mais provável é que as vacinas existam em alguns meses, de modo que os bancos, principalmente os mais descontados em termos de valuation, terão muito a ganhar com a retomada da economia.”
Aéreas e combustíveis
Cássio Bruno, entende que o setor mais afetado pelo coronavírus foi o de mobilidade, portanto tudo o que está relacionado a transporte deve ser impulsionado por uma vacina. Especialmente as combalidas companhias aéreas, que sofreram vendas massivas em março.
“Empresas como Azul (AZUL4), Gol (GOLL4), CCR (CCRO3) e Ecorodovias (ECOR3) seriam boas apostas, pois as pessoas voltariam a viajar seja de avião ou de carro/ônibus”, aponta.
Como consequência do aumento das viagens, viria também um incremento no consumo de combustíveis. Cassio diz que a Comgas (CGAS5) e a Ultrapar (UGPA3) – esta última controladora da rede de postos Ipiranga -, poderiam destravar valor nos meses posteriores ao controle da pandemia.
Renato Ometto também vê boas oportunidades no setor aéreo. Para ele, além de Azul e Gol, a CVC (CVCB3) deve ter uma forte valorização nas suas ações conforme o mercado de venda de pacotes turísticos se reaqueça.
Ambos os analistas hesitaram ao falar sobre preferidas no setor. Ometto acredita que apesar das particularidades, como a Gol ter mais aviões em rotas mais disputadas como a ponte-aérea Rio-São Paulo enquanto a Azul opera rotas alternativas às vezes sozinha, todas vão disparar com uma vacinação em massa da população.
“Acho que o primeiro impacto fará com que tudo suba setorialmente. Todo mundo vai subir junto”, defende.
Imóveis
Setor citado apenas pelos gestores da LIS Capital, a venda de imóveis seria impulsionada pela tese dos especialistas especialmente devido ao retorno do home-office.
“Trabalhar em home office é uma boa alternativa em tempos de isolamento, mas envolve perdas, principalmente em termos de troca com os colegas e absorção da cultura da empresa”, avaliam os gestores.
Neste segmento, a empresa favorita da LIS Capital é a BR Properties (BRPR3), que atua com foco em edifícios de escritórios nas regiões mais ricas de São Paulo e do Rio de Janeiro.
“Conhecemos todos os prédios da companhia [na capital paulista] porque ficam perto dos nossos escritórios e conseguimos avaliar facilmente o quanto valem, pois basta calcular o valor de cada um considerando o valor do metro quadrado e subtrair pela dívida da empresa. Fazendo essa conta descobrimos que o valor real da BR Properties é muito superior ao preço com que ela é transacionada no mercado financeiro.”
Siderúrgicas
Mencionado por Rodrigo Glatt da GTI, o setor de siderurgia pode se beneficiar da recuperação econômica global quando uma vacina estiver disponível, tomando tração da atividade mais dinâmica no mundo todo.
Dentro do setor, a empresa preferida de Glatt é a Gerdau (GGBR4), que além de estar bem posicionada internacionalmente para captar esse aumento da demanda global ainda pode ser a melhor aposta para quem acredita no programa de concessões de infraestrutura do governo federal.
“Há motivos para crer que mais projetos virão diante do trabalho do [ministro da Infraestrutura] Tarcísio de Freitas, com um leilão de aeroportos previsto para abril do ano que vem, além de rodadas de concessões de ferrovias e portos. As empresas também estão falando em novas rodovias e aditivos, então vemos perspectiva de aumento na infraestrutura em todos os modais”, defende.
Se confirmada essa realidade, a Gerdau estaria em uma posição privilegiada por sua forte produção de aços longos, que são os mais usados em obras de infraestrutura.
O Brasil e o mundo
Em termos de atração internacional de investimentos, Peixoto acredita que a B3 está bem posicionada para receber o dinheiro dos grandes investidores quando o grande otimismo chegar para valer. Isso porque foi aberto um “gap” [uma diferença] de desempenho nada desprezível entre o Ibovespa e os índices internacionais durante a crise.
Renato Ometto também acha que o apetite por risco vai fazer com que andem mais os ativos que têm mais espaço para se valorizarem. “Estamos muito descontados. Caímos mais e subimos menos. Existe algum tipo de catch up para fazer”, concorda o gestor da Mauá.
Na opinião dele, o único fator que pode desfazer esse prognóstico otimista para a B3 são os focos de incerteza no noticiário fiscal. “Se o [ministro da Economia] Paulo Guedes for demitido, a queda geral nos preços das ações é inevitável.”
Peixoto, por outro lado, não dá tanto foco assim aos problemas de financiamento do governo brasileiro. “Essa preocupação doméstica com o fiscal existe, mas está no preço. O Brasil segue como uma das piores Bolsas do mundo em termos de recuperação pós-Covid.”
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