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Foto do escritorAndré Gordon

Carta do Gestor - Março de 2016

Prezado investidor,


Não repetiremos novamente o que escrevemos em janeiro e fevereiro últimos a respeito do baixo preço da maioria dos ativos brasileiros, a despeito da grave crise econômica. Temos sido bastante enfáticos desde antes das últimas eleições presidenciais em apontar um cenário binário para o país. O problema deste binômio é que o cenário adverso é muito mais adverso do que qualquer um de nós já vivenciou, provavelmente de mais fácil reflexão para nossos vizinhos venezuelanos ou argentinos.


Já o cenário benigno não necessária e imediatamente implica numa retomada de crescimento sustentável, com recuperação de produtividade e inflação dentro das metas. Ele seria condicionado a um governo de coalizão e que se encarregaria de aprovar no Congresso Nacional algumas reformas importantes, como por exemplo a previdenciária, além de promover um sério ajuste fiscal com ênfase no corte de despesas do governo. Justamente por conta desta distância entre os cenários, além da incerteza quanto os eventos deles derivados, é que poucas vezes a aversão ao risco esteve tão elevada.


Mas as coisas podem estar mudando. O cenário de bancarrota tende a ceder espaço para o Pacto Nacional, caso o processo de Impeachment ocorra. As manifestações populares no dia 13 de março foram as maiores da história do Brasil. Ao redor de cinco milhões de brasileiros foram às ruas, nas mais diversas cidades do país, para pedir o Impeachment da presidente Dilma, além da prisão do ex-presidente Lula. Esse furor das ruas deu o empurrão que faltava para que o PMDB se afastasse definitivamente da base do Governo. Outros partidos como o PSD e PP devem se juntar aqueles favoráveis ao Impeachment nos próximos dias.


A nossa presidente, infelizmente, parece não compartilhar dos principais valores republicanos. Em sua juventude, ela foi militante do grupo terrorista VAR – Palmares e pretendeu com sua quadrilha

implantar no país um regime totalitário ao estilo cubano. Nem o tempo e nem o nosso ambiente democrático atual parecem tê-la curado desta doença. Ela não apenas afirmou que não renunciará à presidência, permitindo que o país retome uma situação de normalidade institucional, como também insiste em classificar o legítimo e constitucional processo de Impeachment como um golpe.


O projeto do PT não mede esforços para permanecer no poder. Escutas telefônicas autorizadas pela justiça capturaram diversos diálogos muito pouco republicanos envolvendo inclusive a própria presidente, além de seu tutor Lula. Entre as baixarias que estamos sendo obrigados a ouvir, houve algumas tentativas de obstrução da justiça, no que poderia ter levado o ex-presidente à prisão e a própria presidente a ser considerada culpada por mais este crime.


Enquanto escrevo esta carta, o processo de impeachment corre na Câmara dos Deputados. Acreditamos que a votação do relatório final elaborado pela Comissão Especial deverá ocorrer em meados de Abril. Com dois terços de aprovação (342 votos favoráveis), o processo de Impeachment é aberto e novo trâmite será iniciado no Senado Federal, sob a presidência do presidente do STF, que definirá também por maioria de dois terços pelo impeachment ou não da presidente. Uma vez iniciado o processo no Senado Federal, a presidente é imediatamente afastada por até 180 dias, deixando a presidência interinamente para o vice-presidente Michel Temer, do PMDB.


Enfim, ainda estamos no meio deste complexo processo. Ainda que enfraquecido, o Governo, inoperante desde o início deste segundo mandato, está se utilizando de forte barganha política com partidos menores para tentar obter um terço dos votos e barrar o processo na Câmara dos Deputados. Mesmo que fosse feliz nesta tentativa mórbida de permanecer apegado ao poder, com um terço do Congresso não se governa um país como o Brasil.


A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) já entrou com novo pedido de impeachment e o TSE segue analisando as contas fraudulentas de campanha do PT, em parte financiadas com recursos desviados da Petrobrás no grande esquema de corrupção conhecido por “Petrolão”. Ou seja, ainda que não caísse desta vez, dificilmente a presidente iria conseguir terminar seu mandato em 2018.


Espero que no próximo mês já possamos nos focar em temas relacionados ao governo provisório e seu projeto “Ponte para o Futuro”, onde há um esboço de uma agenda positiva e de reformas para o país.


Juntando os preços muito depreciados das ações, conforme vínhamos comentando nos meses anteriores, com a evolução do sentimento de que o processo de impeachment finalmente expelirá o PT do governo e sua proposta obsoleta de gestão e práticas criminosas para autofinanciamento, o IBOVESPA teve seu melhor mês desde dezembro de 1999, subindo 16,97%. Felizmente, e por mais um mês, nosso portfolio superou o índice no que foi também nosso melhor mês desde novembro de 2003 quando iniciamos o primeiro veículo. Fechamos o mês com 52% de variação positiva, pela combinação das nossas posições originais com o que chamamos de “kit impeachment”.


E este resultado histórico se deveu ao acerto de nossa estratégia para o Impeachment, combinado com um portfólio onde boas empresas estavam sendo precificadas, em alguns casos, como empresas pré-falimentares. Nossas posições vendidas, principalmente de empresas ligadas ao setor exportador sofreram forte queda, com destaque para Fibria e Embraer, posições que encerramos ao longo do mês, enquanto empresas ligadas a recuperação doméstica tiveram forte valorização. Os destaques ficaram para o setor de siderurgia, onde Usiminas e Metalúrgica Gerdau subiram pouco mais de 100%, e as ações ordinárias da Gerdau subiram 75%, para o setor de serviços de engenharia, onde a empresa Mills teve recuperação, superior a 40%, passado o evento de aumento de capital que o fundo acompanhou, fora os setores de varejo e financeiro, com variações entre 10% e 50% nas principais posições.


A volatilidade em nosso mercado deve permanecer ainda muito elevada até o final deste doloroso processo. O resultado final positivo, entretanto, abrirá espaço para que o Brasil volte a reocupar o espaço que acreditamos lhe caber na economia global. A maioria cética insiste no argumento de que a queda do PT não resolveria nossos problemas. De fato, apenas a queda não resolverá nossos graves problemas. Mas a queda deste modelo de gestão, amparado na “cleptocracia” e no populismo eleitoral, devolverá a esperança ao país. Abrirá espaço para o debate de temas importantes e urgentes, como a reforma do Estado brasileiro, que ultrapassou o tamanho acordado pela sociedade. O sistema previdenciário precisa também ser readequado às novas realidades demográficas, assim como a maioria das nações desenvolvidas vem fazendo nos últimos anos.


E o mundo segue muito líquido. Em diversos países o investidor está pagando para comprar títulos públicos. Esse investidor procura avidamente por novos e atraentes investimentos. Se o Brasil se mostrar um país que respeita os contratos, as regras, a democracia e ainda por cima oferecer oportunidades de crescimento ao longo do tempo, não temos dúvidas de que os recursos externos voltarão para cá e contribuirão para a recuperação da confiança de forma geral e, consequentemente, da economia.


Fazemos um paralelo entre hoje e os últimos meses do governo FHC em 2002. Naquela oportunidade, o risco de um governo PT despertou uma fuga de capitais, uma forte depreciação da moeda e o medo de quebra de contratos que um futuro governo do PT poderia disparar. Os ativos ficaram muito baratos a luz desta combinação de fatores. O primeiro mandato do Lula, com o ministro Palocci na Fazenda e sem a oposição ferrenha até então representada pela PT, foi um dos períodos mais prósperos para os mercados, interrompidos apenas durante o escândalo do Mensalão anos mais tarde. Hoje, os fatores de risco representados pela continuidade do PT ainda estão presentes.


Tudo aquilo que se temia até 2002 se revela na dura realidade representada pela adoção de uma agenda muito concentrada na intervenção do Estado em praticamente todas as atividades da economia e no total desrespeito ao tripé macroeconômico que nos permitiu alguns anos de prosperidade: metas de inflação, equilíbrio orçamentário e câmbio flutuante. Se esse fantasma representado pelo PT for colocado de lado, ou ainda melhor, quando ele for eliminado, extinto, como sendo uma verdadeira máfia, quadrilha, agrupamento de bandoleiros e que não mediu esforços para dilapidar o país, os próximos anos prometem nos devolver a esperança de retomar uma trajetória de prosperidade. Mãos a obra! Teremos muito trabalho para reformar o país.


Atenciosamente,

André Gordon

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