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Foto do escritorAndré Gordon

Carta do Gestor - Março de 2015

Prezado investidor,

Depois da recuperação de fevereiro, a bolsa brasileira acompanhou as principais bolsas americanas e voltou ao vermelho em março, assim como nosso portfólio, que caiu 1,9%.


E se os sinais oriundos da economia norte-americana seguem mostrando uma inflação comportada, a redução no número de novas construções e o crescimento econômico em 2,2% ao ano, número abaixo do esperado, serviram para que o FOMC não apenas mantivesse inalterada a taxa de juros como sinalizasse que este afrouxamento monetário deve permanecer até pelo menos o terceiro trimestre do ano.


Já no Brasil os indicadores de inflação continuaram sensíveis aos ajustes tanto nos preços das tarifas quanto dos bens diretamente influenciados pela taxa de câmbio. No mês o real perdeu pouco mais que 11% de seu valor, acumulando perda de 17% no ano e de 25% de perda desde as eleições presidenciais. Com isso o IPCA de março teve alta mensal de 1,24% ou 7,9% em relação ao ano anterior. Em face deste cenário, o BACEN elevou a taxa SELIC em 0,5% para 12,75% e a TJLP de 5,5% para 6% ao ano. Provavelmente estamos chagando ao final deste ciclo de alta nos juros. Os indicadores de venda no varejo foram surpreendentemente melhores do que as expectativas e os números referentes ao PIB do 4T14 indicaram modesta desaceleração de 0,2%, ante o -0,7% esperado. Vale destacar que houve uma mudança na metodologia de cálculo do PIB que afetou positivamente o resultado dos últimos anos, de forma que a relação entre dívida líquida e PIB se reduziu um pouco, para 36,3%. Já os números ligados ao mercado de trabalho apontaram para novos fechamentos de postos de trabalho, levando o desemprego para 5,9% (vs. 5,7% esperado).


Neste ambiente com inflação elevada, desemprego aumentando, juros subindo e às portas de uma recessão e sob um mar interminável de escândalos de corrupção, não foi surpresa que a popularidade da presidente Dilma caísse para menos de 10%, nível sem precedentes na história recente. A operação Lava-Jato segue com novos julgamentos e basta uma faísca para que os nomes da presidente e/ou do ex-presidente Lula possam ser ligados aos escândalos de corrupção envolvendo a Petrobrás. Daí para que se inicie o debate no Congresso Nacional sobre a abertura de um processo de impeachment será de imprevisível dinâmica.


Pelo sim, pelo não, a presidente Dilma tomou a decisão acertada em manter Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda, mesmo à luz de fofocas e problemas de comunicação entre eles. E o Ministro segue fazendo os ajustes corretos e que por hora tem servido para convencer as agências de rating em manter o nosso grau de investimento. Cada mês de permanência de Levy à frente da fazenda, mais importante ele se torna e menos demissível e mais o mercado volta a ter o horizonte de investimentos alongado. Essa dinâmica particular será muito favorável tanto para a queda nas taxas longas de juros quanto para a recuperação dos preços das ações.


O destaque negativo em nosso portfólio, em março, foi a forte queda de 16,5% nas ações da Vale, basicamente em função da queda de 18% no preço dos contratos de minério de ferro para 6 meses. Aqui há a questão da forte oferta tanto pela Vale quanto pelas suas concorrentes australianas, somada a desaceleração da demanda chinesa. O CRB, principal índice de commodities caiu 5,5% no mês e o petróleo caiu 8,8%. As ações da Gerdau que chegaram a subir 10% no mês fecharam perto da estabilidade após a divulgação de que algumas empresas poderiam ter pago propina aos conselheiros da CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) para reduzir suas dívidas tributárias.


Como destaque positivo, apontamos a recuperação da Mills (+16,6%), do Laboratório Fleury (+15,8%) e da Sulamérica (+8,6%). Também destacamos o início da recuperação de preços das ações da Locamerica, empresa de locação de frotas de automóveis, a qual divulgou seu melhor resultado trimestral em quase três anos e cujas perspectivas para este ano seguem bastante positivas. Na ausência de novos fatores negativos, a inércia parece favorecer a recuperação nos preços reais dos ativos brasileiros.


Atenciosamente,

André Gordon

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