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Carta do Gestor - Junho de 2019

Atualizado: 5 de ago. de 2019

Prezados cotistas,


O mês de junho foi bastante positivo para as principais bolsas do planeta. Os principais índices norte-americanos tiveram expressiva alta, com o S&P500 tendo subido 6,9%, o Dow Jones 7,2% e o Nasdaq 7,6%. O DAX subiu 5,7% enquanto o Nikkei subiu 3,3%. O dólar se depreciou contra a cesta de moedas e, em particular em relação ao Real, que se apreciou 2,5%. O Ibovespa fechou o mês em 4,06% enquanto nosso portfólio subiu 6,15%.


Há, no mundo de hoje, um fenômeno de difícil compreensão até pelos profissionais da área. Em boa parte do mundo desenvolvido as taxas nominais de juros embutidas nos títulos soberanos se encontram em terreno negativo. Investidores pagam hoje 110,5 por um título suíço que vence em 2024, quando receberão de volta 100. Ao longo da existência deste título receberão cupom anual de 1,25 até o vencimento, totalizando hoje 6,25. Resumindo, o investidor desembolsa 110,5 hoje e receberá de volta 106,25 até o vencimento, ou seja, perderá 4,25 ou 0,9% ao ano!!! Além da Suíça, a França, a Alemanha, a Holanda, a Áustria, a Finlândia e a Dinamarca se juntam ao Japão neste seleto grupo de nações.


Quando se trata de retorno real, descontando-se a taxa esperada de inflação, a maioria dos governos dos demais países da Europa além dos EUA, Canadá, Israel, Coréia do Sul, Austrália e Nova Zelândia podem se dar ao luxo de emitir dívida longa sem custos reais. Quando o retorno nominal é negativo, melhor mesmo seria deixar o dinheiro no cofre ou embaixo do colchão. E por que se compram esses títulos?


Em determinados casos, por questões regulatórias, investidores institucionais são obrigados a ter alocações mínimas nestes títulos, noutros, há custos de transação e de manutenção para recursos parados em conta corrente e que podem superar estes números além, é claro, da impossibilidade de se sair da agência bancária com elevadas somas de recursos em espécie, que também teriam custos extras para armazenagem.


Ainda temos juros reais positivos para os títulos soberanos brasileiros e, após a aprovação da reforma da previdência, certamente observaremos um aumento mais consistente de sua demanda. Ao longo do mês, houve a tramitação da Reforma da Previdência na comissão especial e a apresentação de seu Relatório Final, que seguiu para a votação em Plenário. Entre a Reforma propriamente dita e alguma elevação de tributos, foi apresentada uma economia de, aproximadamente, R$ 900 bilhões em 10 anos, muito superior às previsões iniciais da maioria economistas e comentaristas políticos. Houve, como reação, uma forte queda na curva de juros e, consequentemente, uma forte elevação de preços dos ativos.


Voltamos lembrar nossos leitores de que o ciclo de alta que se iniciou com o processo de impeachment da presidente Dilma ainda está em seu início. Primeiro evitou-se o caos, com a reversão de diversas políticas equivocadas, ainda durante o governo Temer. Com a Reforma da Previdência e, posteriormente, a tributária, encerram-se os ajustes macroeconômicos. Em paralelo, uma extensa agenda microeconômica está em curso. Por fim, devemos reencontrar o crescimento econômico sustentável e cujos reflexos serão observados com a recuperação dos resultados das empresas, sendo este o principal insumo para a continuidade do movimento altista.


O cenário externo, como mencionamos, tem contribuído com a liquidez em nossos mercados. Há hoje expectativas de que o FED promova, pelo menos, 2 cortes na taxa básica de juros, até o final do ano, de forma a suavizar o ciclo econômico norte-americano, apesar da força no mercado de trabalho. O nosso BC também já se mostra “atrás da curva”. Espera-se pela aprovação da Reforma na Câmara dos Deputados, para que se inicie o ajuste na taxa Selic, hoje em 6,5%, para encerrar o ano ente 5,5% e 6%. Neste momento em que escrevo essa carta, a Reforma da Previdência acaba de ser aprovada em primeiro turno, por 379 votos favoráveis, 71 acima do necessário. Poderíamos dizer que os astros “conspiram” a favor do Brasil. Temos a oportunidade inédita de abandonar os recorrentes “voos de galinha” para retomar uma tendência mais longa e consistente.


Ao longo do mês, foram destaques os desempenhos das ações da incorporadora Even, com alta de 20,2%, assim como as ações do BR Malls, com alta de 11,9%. Estas empresas, assim como as ações das empresas de utilities Sabesp e Copel são beneficiárias diretas desta redução nas taxas longas de juros. Sabesp e Copel encerraram o semestre com altas de 53,7% e 58,1%, respectivamente. As ações da JSL Logística seguem se beneficiando de sua elevada alavancagem operacional e financeira e tiveram desempenho de 9,3% no mês, tendo sido a nossa maior contribuinte individual do portfólio no primeiro semestre, com variação de 114%.


Também vale destacar que, finalmente, o Pão de Açúcar alienou as ações que tinha de Via Varejo, o que nos beneficiou duplamente. Primeiro por ter levantado parte do caixa que será utilizado para a compra das ações do grupo colombiano Exito, consolidando os ativos do Cassino na América Latina sob as ações da CBD, que migrará para o Novo Mercado e promoverá a troca das ações PN por ações ON, eliminando diversos riscos em termos de governa e abraçando as melhores práticas. Em segundo, permitindo que a Via Varejo possa voltar a se focar nos desafios que o varejo de bens discricionários tem enfrentado com a multicanalidade das vendas. A família Klein voltará a ditar os rumos da empresa fundada pelo patriarca Samuel Klein. A conclusão desta operação ainda deve levar alguns meses e, acreditamos, as ações das empresas devem se ajustar aos novos parâmetros.


Iniciamos o semestre com a tranquilidade de saber que a Reforma da Previdência está bem encaminhada e que a área econômica deverá, oportunamente, se debruçar sobre a reforma tributária, que ainda acompanhamos com certo ceticismo e sobre um pacote de estímulos diversos à atividade e que deve elevar as expectativas para o crescimento do PIB ainda em 2019.


Lembramos aos nossos leitores que se deve tomar certo cuidado com a euforia que, de tempos em tempos, costuma inebriar alguns investidores e manter sempre a disciplina de investimento, não se deixando levar pelas armadilhas que ora e outra se apresentam. A experiência de quem já viveu algumas euforias no passado, nos ajuda muito a não perder o prumo. Um ótimo segundo semestre para todos!!!


Alocação setorial - GTI Dimona Brasil FIA



Atenciosamente,

André Gordon

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